terça-feira, 31 de agosto de 2010

Das habilidades






Então Deus, por que não combinamos assim? - Leva essa habilidade estranha da leitura dos pequenos gestos, essa que de tão intrínseca torna nítido o jogo dos sete erros e me fala tão mais alto do que as palavras escondem. Quem sabe apenas por uns dias, como viagem de férias enquanto fazemos uma reforma nos cômodos empoeirados.

Não é fácil a sensibilidade das miudezas, essa percepção das matizes diárias, um poder sortilégio involuntário, sem garantias que o valha, mas acostumado às comprovações. 
Nosso grande engano é imaginar que as facilidades brotariam dos presságios antes das coroações - tolo desacerto, pois é nas conjecturas que mudamos os passos e nunca saberemos o que foi acaso.
Com o tempo aprendemos a entender as diferenças, estão nelas todo o poder da interpretação, muitas vezes apenas nossa, sem fidelidade à intenção do gesto.
Leva, por hora me desfaço dessa destreza incerta, sei que há riscos, mas deixa aqui aquela outra - a ingenuidade em acreditar de novo.


Raiana Reis







domingo, 29 de agosto de 2010

Nos galopes de centauro


E de tanto uso das palavras nas flechas incessantes ao seu arco, é na falta de munição que escondem-se os segredos de suas armas, ou armaduras. Pois não atira seus ditos com astúcia dissimulada, mas apenas na intenção de difundir os seus sentidos, avesso ao que é oculto. - Não excluem-se os riscos a ferimentos, toda seta tem seu poder agudo.
Buscando encontrar-se na direção de suas lanças, é suprimindo seus recursos na pausa dos silêncios, que estará entre sua fragilidade e força, unidas e opostas como sua própria essência humana e animal.
Ao seguir o norte de seus instintos, aceitam-se os riscos - mas não há jogos ilusórios na sua capa transparente, logo, na confiança ao peito aberto e pés descalços, as máscaras inventivas serão o talho que lhe fere.
Quem a conhece percebe suas dores, mas não as verá refletida em melodramas, prefere os sorrisos como cura, posto que os raios soltos em ira, resultam estragos aos que recebem e ao que propaga.
Conserva ainda no fogo interno, a fé constante do amanhã.

Raiana Reis

sábado, 21 de agosto de 2010

Sabia

"Sabia
Gosto de você chegar assim
Arrancando páginas dentro de mim
Desde o primeiro dia…
Sabia
Que você ia trazer seus instrumentos
E invadir minha cabeça
Onde um dia tocava uma orquestra
Pra companhia dançar
- Sabia que ia acontecer você, um dia"
[Lola - Chico Buarque]



E não podia ser apenas sonho...
No arrepio das costas, o toque a me despertar em sorrisos - me dizia ser você.
Encanto é o nome dado as quimeras que são reais, e apenas uma das palavras que fazem parte desse encontro. As sintonias se fazem o toque e a paz das sensações.
Desfaz meus medos, no teu jeito único de me surpreender.

Vejo um mundo nos teus olhos e construo pontes pra te alcançar...
"Temos tempo, eu bem sei, e não me importa o quanto."

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Mundaréu



Mundaréu - está até no dicionário, mas sempre me pareceu daquelas palavrinhas instantâneas que minha tia inventa nos seus momentos mais inusitados. Nunca precisei perguntar as definições, a gente sente o sentido das coisas na emoção em que acontecem. Às vezes tomo por herança tal costume e faço nas letras sonoras alguma maluquice que me dê sentido ao ápice das sensações.
Queria agora este poder "aurélico", talvez fosse útil para nomear minha porção de fragmentos soltos... Ou talvez sejam só sinônimos, palavras já existem aos montes, preciso mesmo de interpretações.
Por hora apenas me deixei sentir, espalhado-se ao vento por todos os sentidos, meus.

Raiana Reis

domingo, 15 de agosto de 2010

Aula da saudade

(Dos nossos arquivos - no click a imagem fica em boa definição)

Das tantas aulas que juntos vivenciamos, agora começa um período de nostalgia anunciada. Os materiais de apoio serão as diversas recordações, onde encontraremos os pedaços que trocamos nesse caminho... 
Sabemos que não começaram agora as bifurcações e sequer neste instante estaremos todos na mesma reta de chegada da qual partimos em 16/05/2005, mas há a certeza de que estamos juntos. A data registra as conquistas - de sonhos e amizades verdadeiras.
Aprendemos muito além das classes, torcemos por vitórias que não estavam apenas naquele espaço, compartilhamos segredos, dores, delícias, anseios. Pode já não ser como antes, mas haverá sempre uma essência imutável. Este é o elo dos que se querem bem, um amor sem prazos de validade.

Eu fico, as escolhas agora ressaltam e um nó de marinheiro ancora por aqui. Não esquecerei de onde veio por tantas vezes a força, as repostas aos questionamentos internos. Do tanto que fizeram parte, ainda levo na bagagem.


 (impossível esquecer a data após as ligações anuais deste aniversário não é Júnior?)

domingo, 8 de agosto de 2010

Três letras


A conta sempre foi de subtração, metade dos galhos de uma árvore e o esquecimento do famoso domingo no calendário. O tio ganhava o chaveirinho do colégio e a mãe o substantivo composto. Ele, quase sempre a velha recordação da menina que se escondia atrás do sofá.
Sem dramas, sem faltas... Todos aprendemos a substituir espaços, especialmente tendo-os desde o princípio.
Dos raros encontros e invariáveis ligações, qual o vínculo nos amarraria além do nome? Qual o valor de um "eu te amo" em voz embriagada de quem tão pouco lhe conhece?
A surpresa é que fissuras abrem-se mesmo quando já parece tarde. Na mulher, coube o espaço da menina em desabafo. No reencontro, só possível por um luto, a estranha sensação dos olhos que reconheciam nos traços pouco vistos e já tão mudados, o dono da palavra quase não dita - Pai.


- Difícil a pronúncia por quem não vê a representação deste papel, mas não sobram mágoas, já deve levar o peso de suas escolhas. Se na árvore já emendo partes perdidas, nela tem o seu espaço.

Raiana Reis

sábado, 7 de agosto de 2010

Dreams

image from http://weheartit.com

Quando já não resisto ao desejo do abraço,
o encontro em sonhos...
E o que não basta, nutre os anseios.
Há tempo - boas esperas sempre colhem o melhor fruto.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sopro



Amanheço erguendo-me com a força pura dos raios da manhã, mesmo não estando no meu esconderijo matinal onde recomeço os ciclos. Não sei como vieram... Provavelmente seguindo os rastros que deixei naquele último mergulho à beira mar, mas não questiono a posse do endereço, não preciso fugas para o que me fortalece. 
Será chegada a primavera em pleno agosto? O calendário contraria as cores que se pintam à frente, desde o espelho. 
O dia sorri em piruetas acrobáticas, visto então a fantasia para recompor o papel por hora esquecido. Se recordo o ato sem nenhum vacilo, de certo o mérito não está na memória refeita ao amanhecer, mas no sopro que Ele sempre dá, sem carecer motivos.

Raiana Reis

domingo, 1 de agosto de 2010

Riscos


Não desfazer as malas antes do risco.
Aos olhos míopes - sexto sentido é guia.
Afinal, não é com bússolas que  se aprende a caminhar.
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