domingo, 5 de dezembro de 2010

Das Partes: ensaios - Capítulo III


Convergências


Era um sábado que amanhecia em tons de novas ansiedades.

De um sono curto ela despertara com sorrisos envoltos em sonhos e num vigor de quem atropelaria minutos para o reencontro.
Este era um dia que se prometia inteiro, sem ponteiros que lhe exigisse a ordem, sem amarras que lhe cortasse os passos. Das previsões então meteóricas, estavam um roteiro entre cenários e olhares de contínuas descobertas.
Ela levava consigo uma pequena surpresa em detalhes - um presente como de boas vindas na recordação dos antigos diálogos: o pudim de que ele gosta como criança que antecipa a sobremesa. Um prato cheio em caldas de sorrisos soltos, da moça desordenada em sensações.

Percorreram juntos e ainda separados, os vários cantos da cidade em que um dia ele já rabiscou histórias. Naquele momento, estas já não eram mais as paisagens antigas dele, ou caminhos frequentes para ela, mas os panaromas convergentes de dois em um, que se fez em ponte de um antigo imperador.

Após a tímida hesitação em fim de tarde, as águas eram testemunhas dos lábios que afluíam-se ao primeiro beijo.

Raiana Reis

"Tantos rodeios pra enfim me roubar coisas que dele já são."
Chico Buarque

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Das Partes: ensaios - Capítulo II


Timidez.

Nas primeiras horas notívagas os ponteiros já alertavam a Cinderela urbana. Seriam então em doses as descobertas, embora ele confessasse uma agitação desejosa por esticar instantes.

Entre os risos da manhã seguinte, agora a simples chance de quebrar o rush da cidade - Um almoço a dois.
Incrível como eram os mesmos. As teimosias já conhecidas e tão mútuas, faziam cócegas aos nativos de um mesmo sol. Podem até acreditar por charme, esse jeito tão natural em provocar o outro.
Os olhos dele por vezes pareciam a tomar nos braços e a atenção destas cortinas lhe despiam além das vestes, tentavam a leitura de cada gesto. Ela em sua timidez, corria das faíscas que a abrasariam inteira.

Uma pausa e o desejo maior de reencontro.

Ele lhe consentia os planos embora a conduzisse desde o primeiro instante.
Assim ela se preparou, um vestido para ser vista: nos detalhes entre a delicadeza da menina e as curvas da mulher, alguns segredos eram guardados - do frio e dos pequenos olhos de seu par...

A sintonia lhes roubavam as horas, trazia sorrisos e servia caranguejos.

No passeio, mãos ainda distantes. Ele escolhia o cenário, mas repentinamente se tornava menino, na timidez de uma distância. Ela ao seu lado, logo seria a Cinderela outra vez, após o primeiro pastel.

Raiana Reis

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Das Partes: ensaios - Capítulo I


Chegada.

Ela não pintou aquele dia em cores de idealizações, mas nos anseios do imprevisto veio o puro sabor do que é real. Realidade que chegava aos poucos, a cada passo na dança de um reencontro.
No escuro da noite a imagem do pássaro em sua direção dizia o quanto era especial aquele passo, sem promessas ou hipóteses, mas olhares trocados no espaço de um momento.
Sorriu-lhe numa distância já possível enquanto ele desvendava suas tais surpresas - era impossível não o esperar.
Ele chegava com as gentilezas próprias, para os sorrisos desapercebidos e encantamentos que agora ela já sentia.
Se a sintonia era nada mais que costumeira, o imprevisível sempre lhe trazia os bônus.

Hoje ao recordar, ela pensava: "Meu bem, a dança era você quem conduzia, e sem imediatismos, para a maturação dos frutos..."

Raiana Reis

domingo, 7 de novembro de 2010

Dos desejos

Pintura by Jack Vettriano

Quero -
um dia pra raiar comigo, sorriso infantil, sorvete grudento de verão. 
Mar que anuncie o que há por dentro, vento que leve inquietações.

Quero a fé travestida em teimosias, amor coringa em todas as estações.
quero palavras, sempre mais do que silêncios.

Das músicas, ritmo para o corpo e letra ao coração.
Dos dias o imprevisível. Das fotografias as mutações.

Dos sonhos eu quero todos, mas do amor que seja apenas um.

Que as surpresas reacendam os atos, mas não transfigure o personagem na página seguinte.

Quero o amor que me transborda apenas ao lembrar seu nome. Seus anseios e loucuras para dançar com as minhas.
Quero nossos sorrisos largos, a paz no abraço, o papo em horas a fio. 
Que ele entenda a timidez no corpo e a transparência nos sentimentos.
Que leia a sedução dos olhos e a insegurança dos silêncios. 
Que venha sem prazos e se disponha ao encaixe que está além dos corpos...

Raiana Reis

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Extrañandote tanto

Extrañar - é como dizem em boa parte da sul América, mas não há estranhamentos... é apenas uma saudade.
E saudade não se tem a qualquer preço, há que se estar repleto, para se echar de menos...


Da letra, nasce o título. Ao contexto e pano de fundo, Shakira em sua melhor fase, com canções que nos leva à distâncias... Um bolero.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Toma-me

Acerca-me
tateando entre dedos
trespassa em natureza bruta 
o toque preciso que me refaz

Toma-me 
sem restrições 
nesta matéria viva

Arranha-me
entre afincos concisos
os entalhes que me apuram a forma

Moldo-me
maleável ao toque
Sou argila em tuas mãos

Raiana Reis



               (Vídeo por Javier Sánchez in Flickr)

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Tu silencio

Foto por: José de Holanda - holandazé in Flickr 


Me regalas con tu silencio
igual que un brindis a las incertidumbres
que rellenan las calles frías...



Eu ganho teu silêncio como um brinde às incertezas que preenchem as ruas frias...
                                                                                                                        [#teclasap

Raiana Reis

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Eu já não sei se eu tô misturando...


Talvez apenas uma das mais tocadas, mas sempre um presente inesquecível de se ouvir... 
Deles, e das recordações... 

domingo, 17 de outubro de 2010

Esfinges





Então pediam mais que a sinopse,

um fichamento inteiro
Esfinges não exibirão seus mapas

E ainda possuirão tesouros

Raiana Reis

Verdades




Da mentira à verdade,
basta a linha tênue do consentimento.


Raiana Reis




quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Sinais

Sinto.
No viés dessa intensa forma
Sinto pelos gestos, quando também calam
Sinto se há desejo imantado dos olhares
Sinto pelas letras noutras linhas tortas
Sinto
Em distâncias e proximidades
Sinto - sem saber
Na espera dos sinais


Raiana Reis

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Guache

Imagem por Liniers  Macanudo


Há então de vir raiar
Sol de mel risonho
Azulzinho no céu guache
Algodão em doces nuvens

Alecrim no cheiro
Arco em cores íris
Gira o sol nesse jardim

Ciranda em sorrisos
Beijos caramelos
Inocência, inquietação

Há então de vir brilhar
Lua queijo em noite
Estrela desenhada
Nossos sonhos infantis

Raiana Reis

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Nordestina, sim sinhô!

Foi aqui - o início de toda a exploração, toda a imposição, o massacre de um povo em suas terras. Assim começou o Brasil colônia e as terras eram nordestinas.
Sim, há ainda pedaços de solo árido, pedaços de terra seca esturricada, as riquezas exploradas, há gente sofrida e desamparada, mas como dizia o Euclides da Cunha, há uma gente que é, antes de tudo um forte.
A região do nordeste brasileiro, composta por 9 estados, ao contrário do que pensam os que desconhecem suas terras, há uma diversidade imensa, de culturas, recursos, sotaques, belezas naturais e de povo - embora seja o ponto onde converge todas as características, se não por uma homogeneidade, mas por uma comum união, por um sentido único de solidariedade, pelo seu instinto de combater aquilo que igualmente os agridem.
Em face dessa heterogeneidade dentro da região nordeste, não vivo na pele a problemática da seca, ou a falta de oportunidade para qualificação, recursos ou mercado de trabalho... Aracaju, minha cidade natal, tem ótimos índices de desenvolvimento, inclusive o recente título de capital brasileira de melhor qualidade de vida. Apesar de não sofrer as mesmas agruras de outras terras nordestinas, as mesmas dificuldades e sofrimentos de um povo batalhador, eu faço parte deste mesmo grupo e com orgulho. É uma vasta extensão territorial, somos muitos, mas somos um.

E não é assim que deveria ser meu Deus? Onde está a unidade tão ensinada aos teus? Se não existe em totalidade, por que nem ao menos dentro de uma mesma nação?
Claro que os questionamentos não são para o Mestre, mas para aqueles que deveriam ser seus aprendizes.
Somos uma nação que apenas veste a mesma camisa a cada quatro anos, e apenas ali constrói uma falsa imagem de união. Por trás de toda a cortina canarinho, há um povo que segrega, que se afasta entre si, que discrimina a riqueza de suas diferenças.

Motivados a conseguir conquistar com braço forte oportunidades maiores, muitos foram os que migraram e alguns ainda o fazem. Com a cara, a coragem e trabalho árduo, ajudaram a construir o que é hoje regiões como a grande São Paulo. Esta mesma terra que algum dia lhe foi encanto, é a mesma que agora no usufruto de seus esforços, os repelem. E não precisa estar lá para sentir. Basta assumir a sua origem e partilhamos o pão que assim amassam.

Nem todo nordeste é sertão, mas ainda que fosse não seria defeito. Sou nordestina sim, obrigada!

Esse vídeo mostra um pouco desta triste realidade brasileira, conscientizemos!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Das sensações

Foi assim, um despertar pós diálogo interno e raiar o dia preenchida de sensações - que apesar de minhas brotavam para ser entregue.
Dessas, com sobrenome e endereço no envelope.
Dessas, tão minhas por serem confessas e tão suas ao provocá-las a existência.
Freud não justificou os porquês de tais sementes que medram do peito com natureza própria, cientistas e filósofos descrêem de tudo que não pode ser visto. – Eu prefiro a fé dos que apenas sentem, de que me serve a lógica? Bobos e felizes são os poeticamente vivos, ao guiar-se na intensidade dos seus instintos falhos.
E foi um amanhecer de comadres tricoteiras, a conversar baixinho aquilo que já se sabe no cotidiano... Desde aquela vez quando percebi a tua dor em mim, desde cada raio nascente de sorriso aos carinhos teus, desde que vejo cada vez mais nítidos teus traços e cores em cada canto que me traz você.
Toco-lhe a face assim, - ainda que em pensamento - num gesto único que exprima este carinho, e que não te assuste, confunda ou me precipite anseios. Te olho como se tão próximo dissesse: Que as sensações estão entregues por serem somente tuas e em cada nuvem eu me faço em esperas.
Tenho-te perto por sentir-te dentro, ainda que talvez não saiba onde em ti me encontro.
E não importando as direções...
Voa meu menino, que deste lado eu sopro para somar ao vento uma mistura de carinho e energia, desejando que em tuas asas seja o combustível-extra, caso necessites.

Raiana Reis

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Meninos e brinquedos



Datas trazem sempre recordações, ainda quando não são tuas...
E esta traz por um momento o que viria após o papel de presente. Por esquecer ao fazer o embrulho, que meninos esquecem no amanhã o seu brinquedo novo.

E nunca imortal, posto que é chama... mas coube a um velho instante.


Raiana Reis

sábado, 2 de outubro de 2010

É só você morrer de amor que a chama do amor não morre

Filosofia de amor não é rei nem doutor
Quem aprende
Só vai sair vencedor de um combate de amor
Quem se rende
Filosofia de amor só não é sabedor
Quem renega
Só vai prender seu amor e virar seu senhor
Aquele que se entrega

E o poeta é o professor
Que ensina todo dia
Filosofia de amor!...


Música do Jota Maranhão, compositor parceiro do Jorge Vercillo em tantas músicas, como essa abaixo, que me faz sonhar - por que não? - Numa conjunção até hoje só vista nas composições...

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Só o que me resta



o que é
de mim
resta

Não adianta, perdão
 vem sempre fácil quando é pra fora
interno ainda não aprendi não

Amanhã talvez floresça, hoje só o que me - restos...

domingo, 26 de setembro de 2010

Ventania


Quando o vento leva
não prenuncia endereços
Se no barco há vela
Deixa soprar...

Raiana Reis

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Das entregas


Metade do estranho peso Ele carregou ontem, quando O chamei. 
Mas ainda há resquícios, sinto.
As entregas têm que ser contínuas,
como reticências...

Raiana Reis

domingo, 19 de setembro de 2010

Porque isto sempre me emociona, e vai além da poesia...

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Amor e drama


E gosta de viver assim, aquela moça: um tipo peculiar de feiticeira autofágica - adora alimentar-se de seus dramas lacrimosos, reais frutos de um coração imaginário. Vagueando por corredores, chora as pitangas em nuvens espessas, o sol não irradia por muito tempo.
A princípio suas doçuras até aparentam raras delícias. - Desculpe-me querida, mas não por falta de romantismo, enxergo dissabores em teus encantos... É por adoçar demais que se passa do ponto, e ninguém merece o peso de Detentor de felicidades.
Denomina-se intensa, mas na sua lambedoria há contrato exclusivo aos amores intangíveis - Não se vê em algum momento a leveza de um amor próprio. 
Esqueça os dramas, o amor não é muleta.

Raiana Reis

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

O que será que será?


“O que será que será, que esta coleção vai me provocar?”
*Será um Alumbramento ou Fantasia
Todo o sentimento em Roda viva
Samba e amor, Sob medida
Será um Mano a mano!

O que será que será?
Vai me provocar Cantigas de acordar
Vai Passar Feito mistério o Desencanto
De todas as maneiras, um Acalanto
- Trocando em miúdos...
Homenagem ao malandro!


*Em meio ao trabalho acadêmico de análise da peça “Gota D’água”, descobri este concurso cultural para conquistar toda a coleção do Chico Buarque. Acima, a minha participação à pergunta proposta, no deleite de suas músicas, um quebra-cabeça em homenagem.
Do amor que tenho à música, observar as letras como poesia é sempre um fascínio, e isto o mestre faz como ninguém.
P.S: A quem interessar, ainda é possível participar de um outro concurso aqui.


Sempre fico sem palavras pra essa composição:

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Travesseiros




Passar as mão nos teus cabelos... Um afago ao semblante adormecido, que ao fim do dia encontra a paz das inquietações que o sacia a sede - por vida.
Memorizar teus traços na ponta dos dedos a percorrer as sobrancelhas, enquanto lanço meu olhar confesso em desejos... Até que me interrompa os devaneios, no convite ao aconchego dos teus braços.

- Para hoje é só vontade, teu peito se faz em travesseiros.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Gota d'água

gota de agua1
"Eles pensam que a maré vai mas nunca volta
Até agora eles estavam comandando
o meu destino e eu fui, fui, fui, fui recuando,
recolhendo fúrias. Hoje eu sou onda solta
e tão forte quanto eles me imaginam fraca
Quando eles virem invertida a correnteza,
quero saber se eles resistem à surpresa,
quero ver como eles reagem à ressaca."
 
 
Baseada na tragédia clássica de Eurípedes, "Medéia", Chico Buarque e Paulo Pontes compoem em 1975 o texto em peça teatral Gota D'água. Joana - mulher de personalidade intensa e anti-heróica, é a nossa Medéia brasileira nesta obra que nos leva ao cenário do subúrbio carioca, numa crítica social à exploração capitalista, não distante da nossa realidade conteporânea. No pano de fundo de igual intensidade, está um triângulo amoroso do qual faz parte o típico malandro carioca - o sambista Jasão (homônimo do personagem da tragédia grega) conquistador de um sucesso que não chega por acaso.

Me encantei por esta trama na riqueza dos detalhes, da crítica social à paixão de cada uma das pontas do triângulo, muito bem costurados no texto desses autores, além da incrível musicalidade do mestre Chico.
Abaixo figuram as majestosas interpretações, inicialmente da Bibi Ferreira, e uma recente composição, feita pela Izabella Bicalho. - Recomendo a leitura desta peça, que nos prende a cada página.

"E qualquer desatenção, faça não
Pode ser a gota d'água..."






(na obra há diversas músicas já conhecidas, compostas originalmente para esta peça - Gota d'água, Bem querer, Flor da idade entre outras)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Reis

Nas músicas cabem o deleite de todo passional. Em composições como esta há reis que descrevem nas sensações do amor atemporal, um momento único...


Olha - Roberto e Erasmo Carlos

Olha você tem todas as coisas
Que um dia eu sonhei pra mim
A cabeça cheia de problemas
Não me importo, eu gosto mesmo assim
Tem os olhos cheios de esperança
De uma cor que mais ninguém possui
Me traz meu passado e as lembranças
Coisas que eu quis ser e não fui
Olha você vive tão distante
Muito além do que eu posso ter
E eu que sempre fui tão inconstante
Te juro, meu amor, agora é pra valer
Olha, vem comigo aonde eu for
Seja minha amante, meu amor
Vem seguir comigo o meu caminho
E viver a vida só de amor

- E encaixam-se, assim...

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Das habilidades






Então Deus, por que não combinamos assim? - Leva essa habilidade estranha da leitura dos pequenos gestos, essa que de tão intrínseca torna nítido o jogo dos sete erros e me fala tão mais alto do que as palavras escondem. Quem sabe apenas por uns dias, como viagem de férias enquanto fazemos uma reforma nos cômodos empoeirados.

Não é fácil a sensibilidade das miudezas, essa percepção das matizes diárias, um poder sortilégio involuntário, sem garantias que o valha, mas acostumado às comprovações. 
Nosso grande engano é imaginar que as facilidades brotariam dos presságios antes das coroações - tolo desacerto, pois é nas conjecturas que mudamos os passos e nunca saberemos o que foi acaso.
Com o tempo aprendemos a entender as diferenças, estão nelas todo o poder da interpretação, muitas vezes apenas nossa, sem fidelidade à intenção do gesto.
Leva, por hora me desfaço dessa destreza incerta, sei que há riscos, mas deixa aqui aquela outra - a ingenuidade em acreditar de novo.


Raiana Reis







domingo, 29 de agosto de 2010

Nos galopes de centauro


E de tanto uso das palavras nas flechas incessantes ao seu arco, é na falta de munição que escondem-se os segredos de suas armas, ou armaduras. Pois não atira seus ditos com astúcia dissimulada, mas apenas na intenção de difundir os seus sentidos, avesso ao que é oculto. - Não excluem-se os riscos a ferimentos, toda seta tem seu poder agudo.
Buscando encontrar-se na direção de suas lanças, é suprimindo seus recursos na pausa dos silêncios, que estará entre sua fragilidade e força, unidas e opostas como sua própria essência humana e animal.
Ao seguir o norte de seus instintos, aceitam-se os riscos - mas não há jogos ilusórios na sua capa transparente, logo, na confiança ao peito aberto e pés descalços, as máscaras inventivas serão o talho que lhe fere.
Quem a conhece percebe suas dores, mas não as verá refletida em melodramas, prefere os sorrisos como cura, posto que os raios soltos em ira, resultam estragos aos que recebem e ao que propaga.
Conserva ainda no fogo interno, a fé constante do amanhã.

Raiana Reis

sábado, 21 de agosto de 2010

Sabia

"Sabia
Gosto de você chegar assim
Arrancando páginas dentro de mim
Desde o primeiro dia…
Sabia
Que você ia trazer seus instrumentos
E invadir minha cabeça
Onde um dia tocava uma orquestra
Pra companhia dançar
- Sabia que ia acontecer você, um dia"
[Lola - Chico Buarque]



E não podia ser apenas sonho...
No arrepio das costas, o toque a me despertar em sorrisos - me dizia ser você.
Encanto é o nome dado as quimeras que são reais, e apenas uma das palavras que fazem parte desse encontro. As sintonias se fazem o toque e a paz das sensações.
Desfaz meus medos, no teu jeito único de me surpreender.

Vejo um mundo nos teus olhos e construo pontes pra te alcançar...
"Temos tempo, eu bem sei, e não me importa o quanto."

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Mundaréu



Mundaréu - está até no dicionário, mas sempre me pareceu daquelas palavrinhas instantâneas que minha tia inventa nos seus momentos mais inusitados. Nunca precisei perguntar as definições, a gente sente o sentido das coisas na emoção em que acontecem. Às vezes tomo por herança tal costume e faço nas letras sonoras alguma maluquice que me dê sentido ao ápice das sensações.
Queria agora este poder "aurélico", talvez fosse útil para nomear minha porção de fragmentos soltos... Ou talvez sejam só sinônimos, palavras já existem aos montes, preciso mesmo de interpretações.
Por hora apenas me deixei sentir, espalhado-se ao vento por todos os sentidos, meus.

Raiana Reis

domingo, 15 de agosto de 2010

Aula da saudade

(Dos nossos arquivos - no click a imagem fica em boa definição)

Das tantas aulas que juntos vivenciamos, agora começa um período de nostalgia anunciada. Os materiais de apoio serão as diversas recordações, onde encontraremos os pedaços que trocamos nesse caminho... 
Sabemos que não começaram agora as bifurcações e sequer neste instante estaremos todos na mesma reta de chegada da qual partimos em 16/05/2005, mas há a certeza de que estamos juntos. A data registra as conquistas - de sonhos e amizades verdadeiras.
Aprendemos muito além das classes, torcemos por vitórias que não estavam apenas naquele espaço, compartilhamos segredos, dores, delícias, anseios. Pode já não ser como antes, mas haverá sempre uma essência imutável. Este é o elo dos que se querem bem, um amor sem prazos de validade.

Eu fico, as escolhas agora ressaltam e um nó de marinheiro ancora por aqui. Não esquecerei de onde veio por tantas vezes a força, as repostas aos questionamentos internos. Do tanto que fizeram parte, ainda levo na bagagem.


 (impossível esquecer a data após as ligações anuais deste aniversário não é Júnior?)

domingo, 8 de agosto de 2010

Três letras


A conta sempre foi de subtração, metade dos galhos de uma árvore e o esquecimento do famoso domingo no calendário. O tio ganhava o chaveirinho do colégio e a mãe o substantivo composto. Ele, quase sempre a velha recordação da menina que se escondia atrás do sofá.
Sem dramas, sem faltas... Todos aprendemos a substituir espaços, especialmente tendo-os desde o princípio.
Dos raros encontros e invariáveis ligações, qual o vínculo nos amarraria além do nome? Qual o valor de um "eu te amo" em voz embriagada de quem tão pouco lhe conhece?
A surpresa é que fissuras abrem-se mesmo quando já parece tarde. Na mulher, coube o espaço da menina em desabafo. No reencontro, só possível por um luto, a estranha sensação dos olhos que reconheciam nos traços pouco vistos e já tão mudados, o dono da palavra quase não dita - Pai.


- Difícil a pronúncia por quem não vê a representação deste papel, mas não sobram mágoas, já deve levar o peso de suas escolhas. Se na árvore já emendo partes perdidas, nela tem o seu espaço.

Raiana Reis

sábado, 7 de agosto de 2010

Dreams

image from http://weheartit.com

Quando já não resisto ao desejo do abraço,
o encontro em sonhos...
E o que não basta, nutre os anseios.
Há tempo - boas esperas sempre colhem o melhor fruto.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Sopro



Amanheço erguendo-me com a força pura dos raios da manhã, mesmo não estando no meu esconderijo matinal onde recomeço os ciclos. Não sei como vieram... Provavelmente seguindo os rastros que deixei naquele último mergulho à beira mar, mas não questiono a posse do endereço, não preciso fugas para o que me fortalece. 
Será chegada a primavera em pleno agosto? O calendário contraria as cores que se pintam à frente, desde o espelho. 
O dia sorri em piruetas acrobáticas, visto então a fantasia para recompor o papel por hora esquecido. Se recordo o ato sem nenhum vacilo, de certo o mérito não está na memória refeita ao amanhecer, mas no sopro que Ele sempre dá, sem carecer motivos.

Raiana Reis

domingo, 1 de agosto de 2010

Riscos


Não desfazer as malas antes do risco.
Aos olhos míopes - sexto sentido é guia.
Afinal, não é com bússolas que  se aprende a caminhar.

sábado, 31 de julho de 2010


Na noite a insônia fala do temor de haver-se perdido.
O sol nasceu coberto por entrelinhas.
Talvez os olhos míopes confundem as grossas linhas das limitações...

- Descer do trem antes da estação?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Plantio


Não por primeira vez, faço matrícula na escola do tempo, por entendê-lo sempre chave mestra para as grandes inquietações. O dententor dos véus que recobrem as verdades, o verdadeiro oráculo das nossas incertezas.
A busca está em saber-se pequena sempre, desconhecendo nossos mistérios e desejando serenidades, para no passo certo encontrar o melhor caminho.
Enquanto o amanhã não se veste em hoje, planto no inverno as sementes pro nosso verão.
E fecho os olhos em prece, confessando os desejos do que há por dentro.

P.s: Se é pra colher amor, o cultivo se faz intenso...

Raiana Reis


sexta-feira, 23 de julho de 2010

Quando transborda...

Há dias em que se anunciam as sensibilidade dos ais, o prazo vencido embaixo da embalagem já não camufla-se ao sentir o apurado sabor do que incomoda.
Não pertenço a este lugar e não há chances de conquista, a quietude que alguns anseiam será sempre uma prisão para minh'alma. Não aprecio as horas fingidas como um figurante em películas de ação. Gosto do inconformismo que agita as folhagens, tenho mil projetos e mãos ativas para construção de insignes obras, mas entregue-me a bandeja de cafezinhos e tropeçarei nas estáticas planícies.
Os desconfortos adoram economizar passagem, pegando o bonde de uma mesma causa não me resigno aos grosseiros modos de ogros gigantes, que escondem por detrás dos berros a carência de quem não sabe ser amado e acreditam que na feiúra dos seus gestos alcançarão maior atenção - Não a minha. 
Não há medo ou rejeição, tenho comigo uma costumeira paciencia ao acionar o filtro contra ruídos e oferecer sorrisos para o Peter Pam que aqueles levam por dentro. O problema é que estas criaturas são desprovidas de conhecimento popular, esquecem-se que para tudo há também limites.
Ao ser intensa de sensações, o que me salva é a filosofia otimista em refazer os tratos apenas no pedaço bom do que você me deixa.
Amanhã a paz restaura, por hoje o berro cotidiano acumula muito mais sal do que eu podia carregar...
Transbordo.

Raiana Reis

domingo, 11 de julho de 2010

Dou-lhe (trad. Te regalo)

Tradução do meu poema anterior, Te regalo.


Dou-lhe os versos simples
Profundos em significado
Ao confessar em minha boca
Em meus lábios
O desejo que espera por ti

Dou-lhe as horas futuras
Os momentos hoje apressados
Despedaçando a imensa fundura
Não mais distante de ti

Dou-lhe somente o princípio
Vençamos ao dia o improvável
E façamos não mais um pacto
Mas o encontro
Sem fim...

Raiana Reis

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Te regalo



Te regalo los versos sencillos
Profundos en el significado
Al confesarme en mi boca
En mis labios
El deseo que espera por ti

Te regalo las horas futuras
Los momentos hoy apresurados
Deshojando la inmensa hondura
No más lejana de ti

Te regalo solamente el principio
Venzamos al día el improbable
Y hagamos no más un pacto
Pero el encuentro
Sin fin…



 Clique aqui para o poema em áudio e vídeo no youtube. 




Raiana Reis

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Do que se faz em luar

Há quem nos desenhe luas,
quando não podemos vê-las...




Raiana Reis

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Fogueiras


E o que aos olhos já tem sua magia, ganha cores novas, como os desejos de compartilhar as alegrias de um cartão postal.

Nos dias que já marcam a metade de um ano vivido, aos que acolhem todos os sabores de suas raízes, cabe o encanto representado nas costumeiras cores que agora cobrem o nosso céu.

Os sorrisos da Maria Bonita,

As batidas das sandálias ao xote anunciado;

Nas chuvas que caem sem apagar o ritmo dos quadris ao toque da sanfona;

– Formam-se o cenário conhecido que então sussurra o convite aos pés distantes...

Eis que os barcos de fogo, o cheiro do milho, os vestidos de chita ou os casebres representados, pedem acompanhamento próprio, pois existem vários modos para os que acendem uma fogueira.

Raiana Reis

sábado, 19 de junho de 2010






Se há retratos no que escrevo,
haverá também nos silêncios...
Destes, que tomo posse
ao recebê-los embrulhados.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Não me arrependo do que transparece
Dou-me o direito de ser fiel ao que há por dentro.



Raiana Reis

terça-feira, 8 de junho de 2010

Roteiros

Liniers Macanudo

Ainda que não seja a última temporada a melodia já anuncia os créditos por chegar.
Talvez as maiores ações tenham ficado pro final - erro de roteiro ou estratégia assumida?
Postura adepta do improviso em plano B ou do alfabeto inteiro,
desfechos inesperados sempre foram meus preferidos -
sobretudo quando se escreve a própria história.

Raiana Reis

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Um par





Inesperadamente a música toca, e nos olhares cúmplices já se abre o riso, como uma bela cena em preto e branco enquanto a orquestra adivinha a nossa trilha. Assim como levantas a estender-me a mão, atendo e consinto com a cabeça, enquanto no fixo olhar trocamos palavras no silêncio. 
No compasso das pernas, e o toque da sua mão à cintura, sinto o mesmo frisson do início. Na dança, o nosso eterno reencontro - o calor dos corpos unidos, aromas para os sentidos, olhares próximos, mãos unidas em uma mesma direção.
E após a última batida dos acordes, sentimos ao peito, a certeza que a sintonia vai além das notas...



"So darling, save the last dance for me"


Raiana Reis

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Lo que es





Ya no sé cuánto es distinto...
      de lo tanto que me es 
encanto!


Raiana Reis




Ok, acrescentando a tecla SAP:    ;)


Já não sei o quanto é distinto
   do tanto que é pra mim
encanto!



segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sua Senhora



Como se aninhasse ao meu lado inesperadamente na madrugada, 
ele encosta-se puxando o lençol no egoísmo de provocar-me o frio do corpo quase nu, 
De uma nudez em várias faces, levanto-me no piloto automático
e apesar de não ser visto, seu beijo sela a minha boca, 
os ruídos ficam só por dentro.
Hoje sou senhora do Silêncio, me chame só quando se ausentar,
Ou seja de braços fortes,
me tome como sua para que o afaste de mim...


Raiana Reis

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ponteiros

Quando meu faro anuncia é só aguardar a chegada,
Certas teimosias só atrasam os ponteiros...


- Das previsões.



quarta-feira, 19 de maio de 2010

Dos diagnósticos


Porque no lugar dos
     sustos,
ele traz 
        (sempre)
                as boas surpresas...

domingo, 16 de maio de 2010

Medida

Art by Aja



E a toda entrega -
          medida
porque abraço só se estende
               ao peito aberto...

Raiana Reis

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Doe palavras!

Image by Gettyimage


Que a fé seja a semente do teu sorriso, diariamente.

Esta foi minha frase para a campanha do Hospital Mário Penna, para os pacientes de câncer.
Por quantas vezes um gesto de carinho ou uma palavra não nos conforta a alma? Todo gesto de carinho é imprescindível, participe você também!

Funciona assim: você manda uma mensagem através deste site ou pelo Twitter, usando a hastag #doepalavras. Depois de passar por um filtro ela é exibida em Tvs dentro do hospital, em locais que os pacientes mais precisam de força, como a sala de quimioterapia.
As mensagens compiladas nesse projeto serão publicadas em um livro, que será doado para diversos hospitais.

No balanço

¬ E então, o esbarro balançou as estruturas?!
¬  Menina, meu coração é grande... Mas no balanço cabe apenas um.


Image from http://funeralface.tumblr.com/

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